GARRAFAS AO MAR
“Uma mulher inesquecível. Símbolo de coragem e luta” A nossa família tem muitos motivos para reverenciar a sua memória, o principal é a aliança de amor e respeito, que ela soube semear em nós. Mamãe dedicou sua vida a cada um dos seis filhos, com o mesmo zelo. Seu coração era vocacionado para a maternidade. Além dos filhos, ela criou também dois sobrinhos e dois netos. Temos visto como a transformação do ambiente familiar vem causando influências no comportamento da sociedade. No caso da nossa família, podemos nos dizer afortunados. Pois nossa mãe foi uma mulher símbolo de coragem. Ela construiu, com os recursos do espólio do nosso pai, um pequeno condomínio para reunir seus filhos e netos, em uma propriedade antiga que preserva a identidade da família a quase um século, no bairro histórico da Ponta D’Areia, em Niterói. Ela foi a nossa grande Mestra, aquela que ensinou às primeiras letras, a catequese e formou o nosso caráter para a vida. Recebemos dela, como um legado, a riqueza dos exemplos de amor, fé, respeito e solidariedade. Em Campos dos Goytacazes-RJ, onde nasceu, ela foi um anjo bom que ajudou muita gente. Ela construiu uma igreja e uma escola, em sua propriedade. Fez por conta própria, o recenseamento do lugar onde morávamos. Naquele tempo, nosso pai estava a serviço do governo do estado RJ, na região. Mamãe fazia campanhas solidárias para ajudar os mais carentes e levava o padre, uma vez por mês, para realizar casamentos, batizados e Primeira Eucaristia das crianças e adultos. Ela era a dona da escola, mas nunca reivindicou nada para ela. O que ela queria dos políticos era que não faltassem os serviços essenciais. Ela gostava de educação artística, então, dava aulas de artes manuais, corte e costura e culinária, para as mulheres. Para ajudar as pessoas ela não media esforços, chegou a fazer um comitê de campanha do ex-Presidente JK em nossa casa. Lembro que uma vez ele esteve lá e disse a ela: “Estou muito bem impressionado com os serviços que a senhora faz aqui, peça o que a senhora quiser”. E ela disse: “Eu quero implantar um posto do MOBRAL (alfabetização de adultos), precisamos de novas carteiras escolares, livros, cadernos, lápis e merenda. Esses homens e mulheres trabalham no canavial, são lavradores, gente humilde, que tem direito de aprender a assinar o próprio nome e escrever uma cartinha para os parentes distantes”. Mesmo com seis filhos e em meio a tantas atribuições, lembro de vê-la na varanda nas tardes de domingo, se distraindo diante de um cavalete em que ela pintava os quadros. Depois de prontos, fazia rifas para arrecadar verbas e suprir o que faltava na escola. Eu era uma menina de doze anos e cursava o Ginasial no Colégio Bittencourt de Campos. Quando terminava o turno da tarde, as professoras iam embora. Eu e os meus irmãos ajudávamos mamãe a limpar a sala de aula para o MOBRAL, no turno da noite. Os adultos não sabiam nem segurar o lápis. Eu era uma espécie de auxiliar da turma. Ela me pedia para segurar por cima da mão deles e então podia sentir que suas mãos eram cheias de calos, do cabo do facão ou da enxada. Era emocionante ver lágrimas em seus olhos, quando eles aprendiam a assinar o nome completo. É uma lembrança muito especial de nossa mãe. Ela foi uma mulher fantástica. Passou pela terra e realizou a sua missão com louvor. Dona Eunice tinha um coração nobre, sabia ser generosa e solidária com os menos favorecidos. A sua memória nunca será esquecida.
Eunice Silva de Almeida Lima 30/06/1927 23/06/2010
Rezamos hoje por sua alma. Descanse em paz
Amor de mãe a gente guarda no coração para sempre
Labouré Lima
23Junho2021 Niterói RJ
Ler comentários e respostas